segunda-feira, 27 de abril de 2015

38ª Corrida da Liberdade em Odivelas/Lisboa

No domingo, 25 de Abril, o pai da Diana e eu corremos os 11 km não competitivos da 38ª Corrida da Liberdade. É das poucas corridas organizadas gratuitas. Juntaram-se cerca de 3000 participantes nos vários percursos da prova (há uma corrida de 5 km e uma de 1km e ainda uma caminhada).

A prova começa no quartel do Regimento de Engenharia 1, na Pontinha, local em que esteve localizado o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas no dia 25 de Abril de 1974. Houve fanfarra e discursos. O discurso mais emocionante foi de um atleta, ex-preso político nos tempos do Estado Novo, que nos relembrou que antes do dia da Liberdade, nenhum português podia correr ou praticar desporto na via pública, algo que nos tempos de hoje, para os jovens (e não só) seria impensável. Após os habituais discursos políticos de governantes que talvez já nada têm a ver com os valores de Abril, foi dado o tiro de partida...

Com o meu cravo ao peito e após ter gritado um sonante "Viva a Liberdade!", perdi de vista o meu marido e tentei manter o ritmo ao longo dos 11 km que atravessam Lisboa desde a Pontinha até à Praça dos Restauradores. Tentei, porque a cidade das sete colinas não é exactamente fácil de correr. A primeira subida é logo à entrada de Carnide, depois em Telheiras, e nos três viadutos entre o Campo Grande e o Saldanha... As subidas matam-me sempre. Mas não parei... a minha companheira de sempre, a menina do Endomondo, dizia-me o meu tempo de 500 em 500 metros e de cada vez que me dizia que ia acabar em 1 hora e 10 minutos, eu tentava acelerar mais o passo. Esteve sempre a ameaçar chuva, mas rapidamente o tempo nublado tornou-se tão quente quanto um forno... O melhor foi o ventinho que nos refrescou no Campo Grande.

Claro que entre o Saldanha e os Restauradores é tudo muito mais fácil... é sempre a descer. Para além disso tive a companhia de quatro elementos dos Metralhas do BTT que me ajudaram a manter o ritmo nos últimos km. E assim, acabei por fazer o meu melhor tempo de sempre, 1 hora e 5 minutos aos 11 km (fiz os dez em 59 minutos)... Só eu para melhorar o meu tempo numa prova não competitiva!!! Isto irrita! Irrita, porque há provas em que para estarmos mais próximos da partida temos de ter menos de 40, 50 ou 60 minutos... Como na S. Silvestre de Lisboa.

Entretanto, o esforço deu numa valente ferida no pé direito e outra no braço direito, onde carregava o telemóvel com as minhas musiquinhas... Sim, eu sou daquelas que precisa de música para correr, há problema? Eu quero é ir correr uma maratona, e irei com o meu fiel companheiro: o telemóvel, só para irritar os profissionais das corridas com relógios GPS. Riam-se à vontade mas a liberdade também é isto: escolher ir correr onde, como, com quem e com o que eu quiser!

Entre outras coisas, a liberdade é poder escolher e escrever e dizer, sem medos. Mas acho que entretanto nos esquecemos que liberdade é também o dever de exigir e lutar pelos nossos direitos. Não andaram uns senhores Capitães a brincar às revoluções. Não! Foram uns heróis que se sacrificaram e nós, porque temos memória curta, aceitamos de bom grado que alguém nos vá retirando aos poucos os direitos que eles conquistaram??? Não! Abril, hoje e sempre! Viva a Liberdade!



sábado, 18 de abril de 2015

Este já faz cinco...

O tempo passa a correr... não tarda nada, a Diana vai fazer seis anos e vai entrar para a escola primária. Daqui a nada, a Diana vai acabar a primária e entrar para o ciclo... e num piscar de olhos estarei a vê-la entrar para uma faculdade, se esse for o seu projecto de vida. 

Este outro filho, o blogue que decidi fazer para dar conta dos meus desabafos de mãe de uma criança com Epidermólise Bolhosa, fez ontem 5 anos. Há exactamente cinco anos, estava eu a pensar na história da Princesa e a Ervilha, e a pensar como a minha vida estava a imitar essa obra de ficção. Afinal, eu tinha uma bebé na qual quase não podia tocar sem a magoar. Quem tem a pele assim? Só as princesas... 

Desde essa altura, já passamos ciclicamente por altos e baixos e várias fases de depressão, raiva, aceitação, depressão, raiva, aceitação.... infindáveis momentos de revolta contra o mundo, contra os profissionais de saúde menos esclarecidos, contra nós próprios.

Quando comecei esta aventura, não havia na internet informação disponível em Português sobre esta doença. Quando comecei aqui a escrever, não conhecia sequer outros pais de crianças com EB, nem outros doentes. No fundo, não tinha ninguém com quem partilhar as minhas angústias, os meus medos, os meus disparates muito únicos às mães destas crianças. Não havia sequer em Portugal uma associação de doentes da qual fazemos agora também parte e que ajudamos a criar. Não haviam acções de esclarecimento nem de sensibilização para estes doentes com pele de borboleta. Não havia blogues de pessoas portuguesas a lidar com EB. 

Em cinco anos conseguimos muita coisa. Com a DEBRA Portugal, conseguimos uma maior visibilidade para estes doentes, desenvolver documentos importantes de informação e apoio a pais, educadores e profissionais de saúde. Tivemos um maior contacto com novos amigos, que à distância de um ecrã nos vão apoiando e lendo/ouvindo as nossas dúvidas, que continuam a ser muitas. Nesta era digital, há uma maior aproximação com pessoas que têm as mesmas necessidades de compreensão e suporte, temos acesso às novidades científicas, às informações mais recentes. 

É positivo pensar que este blogue poderá ter “dado a mão” a outros que procuraram a informação e os sentimentos que pude transmitir. A EB é uma doença que afecta toda a família. Muitas vezes ouço os pais de crianças borboletas dizerem aquilo que eu também sinto: “O/A meu/minha filho/a está bem, nós é que não.” De facto, espero que o meu blogue, ao longo destes cinco anos, tenha também apoiado as famílias e terem chegado à conclusão de que afinal não estão sozinhas, existem outras que passam e sentem o mesmo.



segunda-feira, 13 de abril de 2015

8ª Corrida S. Domingos de Benfica - Abril 2015


Este domingo fizemos a nossa segunda #Diana'sEBRun. Como o pai não nos pôde acompanhar (está lesionado - correr tem destas coisas), os manos foram correr por ele. Assim, fomos todos em equipa participar em provas diferentes. Eu fiz os meus já habituais 10 km, a princesita fez 300 metros, acompanhada pelo pai, e o mano mais velho 500 metros. É raro haver provas para a idade deles, mas adoraram participar, e no final exibiam orgulhosamente as suas primeiras medalhas de participação. A Diana chegou em 5º (nada mal para a estreia), e o mano em 8º. Estes resultados comprovam que não saem à mãe, que consegue ser mais lenta que uma tartaruga.

Apesar da EB lhe afectar sobretudo os joelhos e pés, a Diana conseguiu realizar a sua corrida sem lesões. Esta era a minha principal preocupação, mas mais uma vez a força interior da minha filha destruiu as minhas dúvidas. É realmente uma força da natureza, esta minha borboleta.

Esta corrida custou-me porque:
1. Não treinei nada durante a semana.
2. Não dormi nada de véspera.
3. Estive numa festa de véspera.
4. Não tomei um pequeno almoço decente, apenas bebi um café e comi um pastel de nata.
E poderia continuar eternamente esta lista...

Na manhã da prova levantei-me com muito pouca vontade de ir correr 10 km. Se não fosse o sentimento de culpa com que ficaria caso não tivesse comparecido, provavelmente nem tinha saído de casa. Depois, havia o entusiasmo das crianças por ser a primeira prova deles... e a mãe tem que dar o exemplo, etc. Lá nos pusemos a caminho. 

S. Domingos de Benfica até é um local que conheço bem. Passei a minha adolescência naquelas ruas, por isso o percurso é familiar, as dificuldades do terreno eram previsíveis. Nomeadamente, as subidas. E subidas houve.  Se tivesse treinado, se tivesse dormido uma boa noite de sono, e se tivesse tomado um bom pequeno-almoço, provavelmente as subidas não me teriam feito tanta diferença... afinal quantas vezes eu já subi a R. dos Soeiros? Vezes sem conta... Mas, no domingo de manhã? Com "dor de burro"??? 

Não desisti da corrida. Quando embarquei nesta aventura prometi a mim mesma que não iria desistir de nenhuma corrida. Afinal, o que importa é terminar e não a velocidade da viagem, por isso fui mais devagar, até a dor parar e uns kilometros mais à frente já queria era chegar... e cheguei. Os meus filhos estavam à minha espera na meta, foi a melhor sensação do mundo quando estenderam a mão para me cumprimentarem. Melhor do que receber qualquer medalha, foi a alegria com que vinham para casa, orgulhosos de terem participado. E é isto.

A Corrida S. Domingos de Benfica é organizada pela Junta de Freguesia e pela Associação Jorge Pina, que trabalha em projectos desportivos, com jovens e adultos com necessidades especiais. Éramos poucos atletas (cerca de 900) mas com vontade de participar e divulgar o trabalho da associação.

Agora, ainda não escolhi a próxima corrida, sugestões?

quinta-feira, 2 de abril de 2015